segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Alguns aspectos do homem moderno

Inicia-se a Missa. Soam as badaladas do sino. Depois da aspersão da água benta, os fiéis pedem perdão pelos seus pecados, fazendo-o nos seguintes termos: “Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini, beato Michaeli Archangelo, beato Ioanni Baptistæ, sanctis Apostolis Petro et Paulo, omnibus Sanctis, et vobis, fratres: quia peccavi nimis cogitatione, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Ioannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, omnes Sanctos, et vos, fratres, orare pro me ad Dominum Deum nostrum”.
Aqui, o fiel confessa seus pecados a Deus, diante de todos aqueles que já se encontram ao lado Dele pela vida virtuosa que tiveram, graças à Graça que lhes foi concedida pelo próprio Deus, e confessa-os também diante daqueles que ainda não terminaram seu caminho de expiação na Terra. Mas o fiel confessa os próprios pecados assumindo a culpa pelos seus pensamentos, palavras, atos e omissões com os quais ofendeu a Deus: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.
Sempre me intrigou a maneira com a qual a Igreja trata os pecados dos seus fiéis, pois o faz sem eufemismos ou meias-palavras. De acordo com a Igreja, o pecado foi, é e sempre será fruto da culpa do homem, exclusivamente fruto de sua culpa individual.
Noutras palavras: o homem, detentor do livre-arbítrio, pode optar entre agir de acordo com a vontade de Deus ou em desacordo com ela; vontade que se encontra revelada na Bíblia e no Magistério da Igreja, e também gravada no coração de todos os homens.
A assunção da própria culpa, a admissão do erro, a idéia de que pecou porque quis fazê-lo mesmo estando ciente de que seu agir o afastaria do Deus onisciente, tudo isso é visto hoje como coisa do passado, como algo completamente fora de moda, uma vez que a modernidade funda-se em teorias que retiram do homem a responsabilidade pelos próprios pecados.
Não há mais responsabilidade individual, haja vista que, de acordo com o modernismo estatal, o homem não consegue agir de modo diferente daquele que lhe é imposto pelo Estado.
Não há mais responsabilidade individual, pois, de acordo com o modernismo socialista, o homem não consegue agir de modo diferente daquele que lhe é imposto pela classe social à qual pertence.
Não há mais responsabilidade individual, porque, de acordo com o modernismo psicanalítico, o homem não consegue agir de modo diferente daquele que lhe é imposto pelos fatos que já aconteceram na sua vida, ainda que desses fatos não haja qualquer lembrança.
Mais do que se contradizerem, essas teorias – as quais possuem muitas variantes – complementam-se com um único escopo, um só desiderato: retirar do homem a responsabilidade pelos próprios atos.
O mal que carregam em si tais teorias desabrocha a olhos vistos: o homem moderno se tornou cretino e autômato. Cretino porque sempre tem uma justificativa que se encontra fora da sua vontade para fazer o que não deveria. E, já que não pode cobrar das outras pessoas a responsabilidade pelos erros praticados por estas, pois não quer ver-se na mesma situação de devedor e ter de pedir perdão aos outros que porventura tenha ofendido, torna-se autômato, um ser mecânico que faz o que faz porque os outros fazem, porque não consegue impor sua vontade individual aos atos próprios.
Eis uma das razões pelas quais chegamos à sociedade que temos hoje: uma sociedade formada por homens que não têm virilidade, que não têm responsabilidade, que não conseguem assumir os próprios erros, que não conseguem defender-se dos erros dos outros e muito menos perdoá-los. Em síntese: uma sociedade formada por frouxos.
Qual é o remédio para uma sociedade assim?
Lembrar que um dia Deus nos responsabilizará pelos nossos atos, e que diante Dele não se poderá alegar que fez o que fez por outra razão, senão porque quis fazê-lo.
De fato, quando se defrontar com o Deus no julgamento final, o homem deverá simplesmente pedir perdão; mas, para isso, antes haverá de assumir o pecado, admitir que pecou em pensamentos, palavras, atos e omissões. E que o fez pela própria culpa. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.

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