Nicolás Gómez Dávila, em magnífico
ensaio (Textos. Girona: Atalanta,
2010), descreve qual seria a ideia que permeia a alma dum revolucionário e
compara-a à do artesão do dia-a-dia, do homem que cumpre seus deveres ciente de
quais são suas limitações, de que la
condición del hombre es el fracasso.
Enquanto o espírito irrequieto age
como se sua natureza fosse angélica e, por um acaso ocasional das coisas, tem
de viver neste mundo alquebrado, sujo e roto; o homem comum, o reacionário,
vive sabendo que ele é o que é, suas circunstâncias concretas, e que la consciência es estructuración de la
impotência y del fracasso.
A vida do revolucionário, e aqui sou
eu quem o chama assim, consiste num negar-se a si mesmo como homem concreto ou
num negar o mundo em que se encontra inserido. É a negação da realidade,
portanto. Ou, em palavras diferentes, sua vida é um negar suas próprias
circunstâncias para apegar-se à ideia por ele mesmo criada. Inclusive há a
negação não só do real, do concreto, mas do próprio tempo, da linha temporal
que percorre o ontem, o hoje e percorrerá o amanhã. Daí a ruptura tão comum em
sua mente consistente em sempre colocar o imaginado mundo novo (ou homem novo)
como objetivo a ser alcançado, independentemente do que é o mundo real, a
despeito do que é factível, sobrepondo o futuro imaginado ao presente concreto.
E mesmo desconsiderando o preço que pagará por isso. E tal preço é a destruição
do real. Seja metaforicamente, como o fazem os filósofos contemporâneos, seja a
destruição mesma, crua, mortífera, como o fizeram os políticos da Revolução
Francesa e da Revolução Russa, por exemplo.
Enquanto isso, a vida do reacionário
é o contentar-se. Ciente de que o mundo é o mundo e que ele próprio não é uma
ideia, mas as circunstâncias com as quais têm de trabalhar, lavora
incessantemente, com um sorriso irônico nos lábios, sabendo que de nada valerá
seu suor, senão num outro mundo que não é este, pois este não será transmudado
em sua essência jamais, quer queira ou não, quer lute por isso ou não.
Da comparação entre os dois perfis,
entre o revolucionário e o reacionário, do que cada um quer e como cada qual
age, eis a conclusão – que não poderia trazer senão nas palavras extraídas da
prosa lindíssima de Gómez Dávila:
A los hombres que destruyen impelidos
por el ciego afán de crear, otros hombres oponen la compasión y el desprecio de
un pesimismo viril. Éstos son los hombres cuya conciencia acepta su condición
humana, y que acatan, orgullosos y duros, las innaturales exigencias de la
vida. Estos hombres compreenden que la enfermedad de la condición humana es la
condición humana misma, y que por lo tanto sólo pueden anhelar la mayor
perfección compatible con la viciada esencia del universo. Una inquieta ironia
conduce sus pasos cautelosos a través de la torpe y áspera insuficiência del
mundo.
Como nada esperan de la indiferencia
de las cosas, la más leve delicia conmueve su corazón agradecido. Como no
confían en la espontánea y blanda bondad del universo, la fragilidad de lo
belllo, la endeble de lo grande, la fugacidade atroz de todo esplendor terrestre,
despiertan em sus almas el respeto más atento, la reverencia más solemne.
Toda la astucia de sua inteligência,
toda la austera agudeza de sua espíritu, apenas bastan para ensayar de proteger
y de salvar las semillas esparcidas.
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