sábado, 8 de julho de 2017

A Bíblia como pedra angular?

Em qualquer conversa com protestantes, os católicos parecem sempre em desvantagem. Ao menos aos olhos dos que assistem ao debate. É aquele catatau de citações bíbricas. São centenas de colocações e argumentos que encontram suposto amparo na Bíbria, assim mesmo com r, como uma metralhadora giratória que atirasse para todos os lados, derrubando tudo ao seu redor. Uma arma letal cujas balas seriam capítulos e versículos e mais capítulos e versículos, numa repetição incessante.

Abro aqui um parêntesis.

Em Campo Grande, um mui famoso advogado do Júri, quando não tinha em quem escorar seus argumentos, sempre muito bons e criativos, citava os zagueiros da seleção italiana da época como se fossem os jurisconsultos que lhe dariam a autoridade científica que precisava para convencer os jurados.

É mais ou menos a mesma coisa.

Como os protestantes se dedicam à arte de falar, são bons oradores. Da oratória, fazem seu meio de proselitismo. Tão necessário para que sua seita cresça e apareça nesta infinita diversidade que há no mercado gospel.

Os católicos, normalmente somos reflexivos e tentamos amealhar mais cordeiros para a grei do Senhor com atos, e não com um palavrório sem fim. Daí São Francisco afirmar que ele deveria pregar o Evangelho todos os dias, a cada momento, e se sobrasse um tempinho falaria alguma coisa também.

Para se perceber a diferença entre uma pregação e outra, basta contar quantas são as obras de caridade católicas e quantas são as protestantes. Quantas Madres Terezas ainda há em Calcutá!

Pois bem.

A primeira coisa que se haveria de levar em conta é que a Bíblia, hoje muito mutilada pelos cirurgiões teológicos do protestantismo, cujas traduções às mais das vezes são lastimáveis, não caiu do céu como se fosse um maná. Alguém teve de dizer, por exemplo, que a Carta que São Paulo havia escrito à Igreja de Coríntios fora inspirada pelo Espírito Santo. Que o Apocalipse de São João também. E que o evangelho atribuído a São Tiago não pararia dentre os canônicos, posto tenha sido muito usado pelos primeiros cristãos, porque não tinha sua autoria confirmada.

Afinal, quem resolveu quais livros entrariam ou não no cânon bíblico?

Para o espanto de todos, ao menos daqueles protestantes sinceros, foi a Igreja Católica! E no final do século IV! Ou seja: os livros canônicos só foram reconhecidos como tais depois de aproximadamente trezentos anos que haviam sido escritos, num Concílio regional da Igreja Católica africana realizado em Hipona, e estendido para o orbe católico de forma dogmática com o Concílio de Trento.

Com isso quero dizer algo simples: até para se crer na Bíblia, tem de se crer na Igreja Católica! Santo Agostinho o disse com mais estilo, por isso replico-o: "não creria na Bíblia se a isso não me levasse a  autoridade da Igreja Católica".

Daí a pergunta que não quer calar: como é que alguém pode contrapor a Bíblia à Igreja?

Seria como contrapor o filho à mãe!

Mas é nisso que os protestantes são peritos!

É claro que sem a Igreja não haveria a Bíblia. E isso no tempo e fora do tempo. Aqui e na eternidade.

Afinal, Jesus não ordenou que os apóstolos escrevessem livros com suas histórias. Alguns deles fizeram porque quiseram, como um plus à missão que desempenhavam. Jesus ordenou só que pregassem o Evangelho a todas as criaturas! Tanto é verdade que a maioria dos apóstolos sequer uma linha escreveu!

Só que há algo mais interessante.

De fato, aqueles que se dizem seguidores da Bíblia dividem-se hoje em milhares de seitas, cada uma delas dizendo algo diferente do que é dito pela outra. E quem divide, não une. Se Deus é um, quem divide não pode ser Deus!

Já a Igreja Católica fala a mesma coisa por dois mil anos. E se Bergoglio deixar, falará a mesma coisa até a volta triunfante de Jesus.

Como é que a Bíblia pode ser a base do Cristianismo, sua pedra angular, se cada um faz dela o que quer? Se cada um interpreta-a de acordo com o que lhe der na veneta?

Se se levasse a sério tal argumento, de que a Bíblia é o sustentáculo do Cristianismo, ter-se-ia de admitir que ela seria uma nova Torre de Babel!

E eu particularmente penso que a reforma protestante é mais uma tentativa de alcançar a Deus por si mesmo, sem a Graça do Espírito. Uma nova Torre de Babel, portanto.

Porque se se reconhecesse a necessidade da Graça para se alcançar o céu, certamente também se reconheceria como necessário o edifício erguido sobre Simão, filho de Jonas, a quem Jesus chamou Pedro. Pois é dentro deste edifício espiritual que se encontra a única e verdadeira Graça!  O Espírito sopra onde quer, mas sempre para o mesmo lado!

Em síntese: a Igreja Católica crê em Jesus Cristo, verbo feito carne, a verdade tornada Homem. Os protestantes, naquilo que selecionam do que os católicos escreveram sobre Jesus Cristo.

Ps. Antes que algum protestante proteste, dizendo que a pedra angular é Cristo, porque isso está na Bíblia, por favor, faça um curso de interpretação.

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