segunda-feira, 20 de maio de 2013

Sobre idiotas


O mundo anda complicado. Nelson Jobim disse a coisa certa ao afirmar que os idiotas perderam a modéstia. Hoje parece que os há aos borbotões. Togado, com avental branco ou simplesmente de terno, sempre aparece um idiota portando diploma para dizer alguma tolice. E o que é mais interessante: o diploma do idiota parece lhe dar o direito de afirmar qualquer coisa sobre o assunto que estiver em discussão. E os idiotas sempre são bons moços! Todos eleitores do Obama. Todos contra o aquecimento global. Todos contra a caça às baleias. Todos contra as armas. Todos a favor do aborto. Todos a favor do casamento gay. Todos a favor da liberdade religiosa, desde que não se trate do cristianismo, esse antro de trogloditas.
Só que há casos de idiotismo disfarçado, e é sobre uma espécie de idiota disfarçado que quero tratar agora: o idiota letrado.
O idiota letrado tem uma característica: ele não escreve para que os outros entendam. Ao contrário. Faz de tudo para que seus textos sejam difíceis. Se possível, ininteligíveis.
Os idiotas letrados criam ao entorno uma mística, talvez porque sejam maioritariamente professores universitários. Com a mística e os textos difíceis, passam a ideia de que só os iniciados conseguiriam entendê-los. Fazem como Maomé: aos convertidos, os idiotas letrados fornecem a mística e a língua própria de sua nova religião. De fato, caso não tenha conseguido compreender o que o idiota letrado escreveu, é porque você é um pobre-diabo que ainda não foi batizado na nova religião que o tem como demiurgo.
Existem casos e mais casos de idiotas letrados. Se você faz parte do universo jurídico, como eu, conhece vários. Basta puxar pela memória. Agora, então, virou febre no Brasil: o idiota letrado porque bacharel em Direito se quer filósofo! Para ele, não é suficiente o título de doutor em Direito penal. Ele quer dar palpite! Quer mostrar que leu Gadamer (ao pronunciar o nome do autor, por exemplo, o idiota o faz como se dominasse o alemão), ou que lê um livro por semana, ou que já leu tantos livros que é capaz de saber tudo sobre qualquer assunto, de física quântica à criação de minhocas em Marte.
Só que o idiota letrado esquece uma coisa: no mundo, existem muitos bobos, mas nem todos são paspalhos.
Certa feita, peguei o texto de um articulista do CONJUR que, na largada, afirmava que lia um livro por semana. Engraçado, pensei. Engraçado porque o Fulano teria de trabalhar, pois é servidor público. Ora, quem toca os processos que estão sob sua responsabilidade, se ele passa o dia inteiro lendo e dando aulas? Bom, sei lá. Só que é pior: no texto do afamado professor, também voraz leitor e às vezes servidor público que se quer filósofo, que quer fazer filosofia no Direito, e não filosofia do Direito, no texto do professor que vive fazendo esses joguinhos de palavras, eu peguei mais ou menos cinco erros graves de português. Na verdade, o Fulano não sabe quando há de usar por que, porque, porquê ou por quê. Mesmo assim é doutor, gaba-se disso, e sempre coloca entre parêntesis palavras em alemão! Lindo! Trata-se de um idiota em dois idiomas!

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