O mundo anda complicado. Nelson Jobim disse a coisa certa
ao afirmar que os idiotas perderam a modéstia. Hoje parece que os há aos
borbotões. Togado, com avental branco ou simplesmente de terno, sempre aparece
um idiota portando diploma para dizer alguma tolice. E o que é mais
interessante: o diploma do idiota parece lhe dar o direito de afirmar qualquer
coisa sobre o assunto que estiver em discussão. E os idiotas sempre são bons
moços! Todos eleitores do Obama. Todos contra o aquecimento global. Todos contra
a caça às baleias. Todos contra as armas. Todos a favor do aborto. Todos a
favor do casamento gay. Todos a favor da liberdade religiosa, desde que não se
trate do cristianismo, esse antro de trogloditas.
Só que há casos de idiotismo disfarçado, e é sobre uma
espécie de idiota disfarçado que quero tratar agora: o idiota letrado.
O idiota letrado tem uma característica: ele não escreve para
que os outros entendam. Ao contrário. Faz de tudo para que seus textos sejam
difíceis. Se possível, ininteligíveis.
Os idiotas letrados criam ao entorno uma mística, talvez porque sejam maioritariamente professores universitários. Com a mística e os textos difíceis, passam a ideia de que só os iniciados conseguiriam entendê-los. Fazem como Maomé: aos convertidos, os idiotas letrados fornecem a mística e a língua própria de sua nova religião. De fato, caso não tenha conseguido compreender o que o idiota letrado escreveu, é porque você é um pobre-diabo que ainda não foi batizado na nova religião que o tem como demiurgo.
Os idiotas letrados criam ao entorno uma mística, talvez porque sejam maioritariamente professores universitários. Com a mística e os textos difíceis, passam a ideia de que só os iniciados conseguiriam entendê-los. Fazem como Maomé: aos convertidos, os idiotas letrados fornecem a mística e a língua própria de sua nova religião. De fato, caso não tenha conseguido compreender o que o idiota letrado escreveu, é porque você é um pobre-diabo que ainda não foi batizado na nova religião que o tem como demiurgo.
Existem casos e mais casos de idiotas letrados. Se você faz
parte do universo jurídico, como eu, conhece vários. Basta puxar pela memória.
Agora, então, virou febre no Brasil: o idiota letrado porque bacharel em
Direito se quer filósofo! Para ele, não é suficiente o título de doutor em
Direito penal. Ele quer dar palpite! Quer mostrar que leu Gadamer (ao
pronunciar o nome do autor, por exemplo, o idiota o faz como se dominasse o
alemão), ou que lê um livro por semana, ou que já leu tantos
livros que é capaz de saber tudo sobre qualquer assunto, de física quântica à criação de minhocas em Marte.
Só que o idiota letrado esquece uma coisa: no mundo, existem
muitos bobos, mas nem todos são paspalhos.
Certa feita, peguei o texto de um articulista do CONJUR que,
na largada, afirmava que lia um livro por semana. Engraçado, pensei. Engraçado
porque o Fulano teria de trabalhar, pois é servidor público. Ora, quem toca os
processos que estão sob sua responsabilidade, se ele passa o dia inteiro lendo
e dando aulas? Bom, sei lá. Só que é pior: no texto do afamado professor,
também voraz leitor e às vezes servidor público que se quer filósofo, que quer
fazer filosofia no Direito, e não filosofia do Direito, no texto do professor
que vive fazendo esses joguinhos de palavras, eu peguei mais ou menos cinco
erros graves de português. Na verdade, o Fulano não sabe quando há de
usar por que, porque, porquê ou por quê. Mesmo assim é doutor, gaba-se disso,
e sempre coloca entre parêntesis palavras em alemão! Lindo! Trata-se de um
idiota em dois idiomas!
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