Há, no Brasil, uma espécie que merece atenção. São os homens
burocráticos, os quais, justamente porque o são, sentem-se vitoriosos por isso.
Conseguiram, via de regra, a aprovação num concurso público, entregaram suas
vidas ao Estado, que determinará quanto ganharão o resto dos seus dias e quais
trabalhos realizarão, tornando-se irresponsáveis de si próprios; mas, no
princípio, vivem prazenteiramente a vida mais chata que alguém poderia ter. E
sentem-se bem. Sentem-se vitoriosos. Sentem-se poderosos. Afinal, venceram com
vinte e poucos anos. Estabilizaram-se. Tornaram-se autoridades burocráticas de
uma burocracia falida e ignara.
Passam-se os anos, porém. E aquela arrogância primitiva, de
ser alguém tão jovem, torna-se algo massacrante. Os homens burocráticos iniciam
conflitos com outros homens burocráticos, uma vez que precisam vencer novos
desafios, problemas que não existem e que são forjados com as quimeras diárias.
Eis as perseguições. Os grupos rivais dentro da mesma repartição. As denúncias.
Intrigas. Brigas por espaço. Mas que espaço? O espaço que hão de ocupar para
ser como os porcos da fábula de George Orwell, que pregavam: todos somos
iguais, mas uns são mais iguais que os outros.
Lutam também, os homens burocráticos, por salários mais
dignos, afinal de contas, ao fim e ao cabo, são eles as pessoas mais
importantes da República, sustentando-a com o conhecimento colhido...
colhido... colhido... na repartição! Ora, bolas!
E a vida dos homens burocráticos – haja vista que eles não
têm vidas, mas uma só e maçante vida – limita-se a duas coisas: eles sentem-se injustiçados porque os colegas não reconhecem seu trabalho; e sentem-se injustiçados porque
a sociedade não reconhece como eles e seus colegas fazem por merecer o que recebem.
Aos homens burocráticos, tenho só uma coisa a dizer: olhem o
mundo, o tamanho que ele tem, e vejam se vale a pena sacrificar a própria vida
no altar da estabilidade. Há quem jamais topou tal sacrifício, pois preferiu,
como a personagem da música cantada magistralmente por Frank Sinatra, traçar o
próprio caminho.
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