Não votaria em Marina Silva ainda que ela concorresse
sozinha. Não gosto de seu messianismo. Não gosto daquele seu obamismo jeca. Não
gosto de suas frases ininteligíveis. Mas uma parte dos esclarecidos parece
gostar. Se essa parte for a maior, que venha Marina, a política que finge
odiar a política.
Minha aversão ao que representa Marina Silva, no entanto, não
me permite aderir às críticas segundo as quais montará um califado no Brasil.
Ela não o fará. Todos têm convicção de que não o fará. Só que querem porque
querem retirar do campo político algo que é político por excelência: a religião
do povo. E o ataque a Marina é o meio atual de fazer isso.
Qualquer zumbi sabe que a laicidade estatal não quer dizer
que a religião tenha de afastar-se das discussões políticas. Aliás, qualquer
energúmeno tem plena consciência de que a política não se compõe de
demonstrações silogistícas, mas de discursos persuasivos que levam os ouvintes
para cá ou para lá. E por que tais discursos não poderiam considerar o que há
de religioso no povo? Seus valores, suas crenças? Porque os jacobinos tardios querem impor a opinião
de que religião é atraso; que o Estado tem de ser laico obrigatoriamente para
que haja liberdade. Dois exemplos demonstram o erro que está implícito no
raciocínio daqueles que criticam a religiosidade de Marina, pelo simples fato
de ela confessar-se religiosa: um, o da Inglaterra, que é um estado – pasmem! –
confessional; outro, o da China, que é um estado leigo. Quem tem dúvida sobre
em qual desses países há mais liberdade, que compre uma passagem só de ida para
a China, um belíssimo estado laico, gerido pelas regras científicas do marxismo
orientalizado de Mao.
Àqueles que criticam Marina pela simples razão de ela confessar-se
religiosa, digo o seguinte: deixem de ser bocós. Religião não é atraso. Laicismo
não é progresso.
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