Hoje, organizam-se passeatas e abaixo-assinados contra tudo
o que há de errado no mundo.
Só que andei reparando numa coisa que a mim me pareceu
interessante: sempre as passeatas são feitas contra substantivos abstratos. Hoje,
por exemplo, a OAB promoverá uma marcha contra a corrupção.
Alguém aí já imaginou uma marcha a favor da corrupção?
Bom, se não conseguiu imaginar, é porque a OAB está com o
foco errado.
De fato, pessoas sérias não fazem marchas contra a
corrupção; mas marchas contra os corruptos, denominando-os e expondo o que
fizeram de errado. Dou um exemplo recente: na marcha dos caras-pintadas, os
jovens – manipulados ou não – foram às ruas contra o Presidente Fernando
Collor, e não contra uma abstração qualquer.
Há-se de dar nome aos bois, chamando os corruptos de
corruptos e dizendo por que o são; o resto é empulhação pura e simples, ou, na
mais benevolente cogitação, desperdício de tempo e dinheiro.
Em outras palavras: enquanto não se descer do olimpo dos
substantivos abstratos em direção à baixeza dos substantivos concretos, as coisas
permanecerão como estão. Ou alguém já viu um substantivo abstrato ser
processado, preso e impedido de atuar na vida política porque recebeu propina?
De qualquer forma, da conduta dos caciques da OAB só extraio
duas possibilidades: ou eles sabem o que fazem, e o fazem para jogar para a
torcida e dar uma explicação para a sociedade (outra abstração) sem se
comprometer efetivamente na luta contra os corruptos, talvez porque o sejam
também; ou são uns pamonhas.
Em favor da primeira tese, temos a baixa qualificação moral
e intelectual dos líderes da advocacia. Quem já ouviu algum discurso do Sr.
Ophir sabe do que estou falando. Aliás, ele mesmo é acusado de receber salários
indevidamente de seu estado de origem. O homem é o verdadeiro picolé de chuchu,
sempre bradando contra substantivos abstratos e ideias malvadas, sem nunca se
comprometer com o combate efetivo que a OAB haveria de fazer contra os
corruptos.
Só para ficar no último episódio desconcertante, que foi a
briga entre os Min. Peluso e Joaquim Barbosa, o que fez a OAB? Nada. Ora, se
Peluso realmente manipulou julgamentos, como acusa Barbosa, tem de responder por
isso, porque é crime de responsabilidade. Se Peluso não manipulou julgamentos,
quem tem de ser processado e condenado por calúnia é o Min. Joaquim Barbosa. De
um jeito ou de outro, nós, advogados e cidadãos, estamos nas mãos de um
criminoso ocupando a cadeira do Supremo. Criminoso contra quem a OAB nada fará.
Como dou o benefício da dúvida aos líderes da
advocacia, recomendo-lhes: vão fazer pamonha! Saiam daí! Parem de jogar
dinheiro fora!
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